O segmento de flores e plantas ornamentais está em evidência. O consumo per capita no Brasil está na casa de R$ 26 e a cadeia produtiva fechou 2014 com um movimento de R$ 5,6 bilhões. O destaque fica por conta das flores tropicais, que precisam de menos água e levaram vantagem no ano passado, período em que a seca no Sudeste prejudicou a produção das flores temperadas.
O Brasil é o terceiro maior produtor e segundo maior exportador mundial do setor, que tem aproximadamente 8 mil produtores, sendo 90% de pequeno porte. Com o apoio do Sebrae – que trabalha o segmento em 11 Estados –, esses agricultores melhoram a gestão, conhecem novas tecnologias e mecanismos de produção e comercialização.
Bruno Lyra, produtor de grama ornamental em Alto do Rodrigues, a 200 quilômetros de Natal, Rio Grande do Norte, é um exemplo. Ele foi um dos integrantes do grupo que o Sebrae levou para a Tropical Plant Industry Exhibition (TPIE), uma das maiores feiras do setor, que acontece na Flórida, Estados Unidos. “Lá conheci duas fazendas de grama e acompanhei o processo desde o preparo do solo até a colheita”, diz. Também ficou por dentro das novidades na área de garden. “No Brasil, os gardens são os meus clientes, então eu tirei várias fotos para mostrar as inovações a eles”, acrescenta.
Quarta geração de agricultores, Lyra decidiu plantar grama em 2008. Ele achava que seria fácil, por causa da experiência de sua família com a plantação de feno, mas não foi. A gramínea demonstrou-se bem diferente, com peculiaridades quanto a pragas, preparo de solo e irrigação. Mas o plantio de grama ornamental era algo recente no Nordeste e ele não desistiu.
Lyra viajou para conhecer plantações no Sudeste, foi várias vezes ao exterior, sempre em busca de conhecimento para manejar melhor a cultura. Hoje, ele tem 32 hectares da grama ornamental esmeralda em sua fazenda e se orgulha de estar fazendo história. “Eu colho a grama e faço plantio direto de feijão em cima para fixar nitrogênio no solo. Ninguém faz isso, mas estou fazendo e está dando certo.”
Embora o mais comum seja plantar grama em solo arenoso, o de Lyra é argiloso. Mas isso não tem sido um problema, pelo contrário. “Por ter solo argiloso, eu consigo tirar um tapete de grama mais fininho e carrego o caminhão com 600 m2. Se o solo fosse arenoso, eu teria de tirar um tapete mais grosso e caberia apenas 500 m2”, explica.
No Ceará – Estado conhecido pela produção de flores tropicais –, o Sebrae apoia mais de 100 produtores do segmento. Anualmente, a instituição organiza o Agloflores, uma feira que promove novas tecnologias e divulga a produção do Estado.
No momento, o Sebrae participa da organização da Central de Vendas de Fortaleza, um mercado de flores em construção orçado em 2 milhões de reais e financiado pelo governo estadual. O espaço será gerido pela Floresce, associação de produtores de flores e plantas ornamentais do Ceará. “O objetivo é que eles tenham um canal de venda direta ao consumidor final e que o local se transforme num polo turístico”, diz Paulo Jorge Mendes Leitão, gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae no Ceará.
A Naturayo estará na Central de Vendas. Com uma forte estratégia de marketing, a empresa exporta para Europa, EUA e Canadá. No mercado nacional, ela é sócia e fornecedora da cooperativa Veiling de Holambra, a maior do setor na América Latina. “Por meio de cooperativa ofertamos nossos produtos a compradores de diversos segmentos (supermercados, floristas, garden centers, paisagistas, distribuidores e decoradores) que levam para todo território brasileiro”, diz Thomas Reeves, diretor comercial da Naturayo.
A empresa produz sansevierias, plantas da família das suculentas que necessitam de rega moderada, e ananás (abacaxis ornamentais) em Paracuru, região praiana do Ceará. São 8 hectares de plantio, uma área aquém da demanda, mas compensada pela produção de parceiros. “Nós capacitamos famílias locais para nos fornecer produtos semiprontos para beneficiarmos e comercializarmos”, diz o diretor.
As espécies cultivadas pela Naturayo foram escolhidas por sua adaptabilidade às condições de clima e solo do Ceará. Apesar de serem resistentes e precisarem de menos água, a falta de chuva causou atrasos na produção, o que nunca tinha acontecido. “Estamos tomando providência em termos de tecnologia de produção para evitar este tipo de problema”, informa Reeves.
Com clientes nos EUA, Canadá e Europa, hoje a Naturayo tem uma estrutura comercial que permite trabalhar estratégias para tornar a venda mais eficiente. “Podemos canalizar produtos para mercados diferentes dependendo da variação cambial, cultura e poder de compra”, diz o diretor.
Cada país tem sua especificidade e exige mercadorias de cores e designs diferenciados. Também a logística e a legislação mudam de um país para outro. “Na Europa temos a possibilidade de enviar produtos em vasos prontos com substrato para comercialização. Nos EUA, não é possível entrar com nenhum substrato, a planta vai com a raiz nua para ser plantada e enraizada lá”, explica.
Recentemente, Reeves integrou missão técnica organizada pelo Sebrae à Feira Internacional de Plantas IPM, em Essen, Alemanha. O evento é uma ótima oportunidade para fazer contatos e ver quais as tendências de produtos, quais são as novas tecnologias de produção e as estratégias de marketing para divulgação. “No meu caso, durante a feira consolidei a exportação teste de um novo produto e conheci uma empresa que quer terceirizar sua produção em outro lugar do mundo e me coloquei à disposição”, finaliza.
Fonte: LÍVIA ANDRADE