quarta-feira, dezembro 4, 2024

Pesquisadores pedem agilidade no combate a três novas pragas

Pesquisadores pedem agilidade no combate a três novas pragas
Três novas pragas agrícolas, detectadas recentemente por pesquisadores, estão danificando plantações de soja, milho e algodão no Brasil, causando perdas expressivas. A descoberta aumenta ainda mais a necessidade de se reforçar a defesa fitossanitária no País, além de uma tomada de decisões mais rápidas e eficazes, por parte dos órgãos competentes, para o controle e erradicação das invasoras.
As novas pragas foram identificadas como a Melanagromyza sp., mas conhecida como a mosca-da-haste da soja, a Helicoverpa punctigera, parente próxima da Helicoverpa armigera, e a Amaranthus plameri, erva daninha bastante resistente aos herbicidas. Juntas, elas podem causar perdas de até 91% nas safras, de acordo com a bióloga da Agropec, Regina Sugayama.

Segundo a bióloga, para que essas novas pragas não causem prejuízos similares aos da Helicoverpa armigera, é necessário uma agilidade maior por parte do governo, através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na liberação de informações.

“O Mapa obriga a todos os pesquisadores que descobrirem uma nova espécie de praga no Brasil a comunicar o ocorrido. Só depois da concordância da Pasta é que eles podem tornar pública a informação, e isso pode demorar um, dois anos, ou até mais, só que a praga não vai ficar esperando. Daí há a necessidade em agilizar esse processo”, observa Regina.

De acordo com a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), essas novas pragas, inclusive à Helicoverpa armigera, se somam a outras de difícil controle, como a mosca branca, a broca-do-café e a ferrugem asiática. Esta, nos últimos 10 anos, causou prejuízo superior a US$ 25 bilhões.

AVALIAÇÃO DE RISCO

Outro ponto levantando pela bióloga é que as novas pragas ainda não se enquadram na lista das pragas quarentenárias, ou seja, não estão entre aquelas que o Mapa já fez uma avaliação de risco e concluiu que, se elas entrarem no Brasil, tem um potencial de devastação muito grande.

“Essas três espécies não fazem parte da lista de pragas quarentenárias do Ministério. São espécies desconhecidas, tanto pela nossa pesquisa quanto pelos órgãos regulatórios, portanto, estamos dois passos atrás da praga, pois elas já entraram e só agora estamos tomando conhecimento de que existem”, argumenta.

MOROSIDADE

Durante evento realizado em São Paulo, na última semana, o diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, também manifestou-se sobre a morosidade na tomada de decisões relacionadas às pragas.

“É preocupante verificar que, nos últimos anos, tem havido uma vertiginosa redução na análise de novas tecnologias para a defesa das plantações”, afirma.

De acordo com Daher, a aprovação de todos os produtos parados na fila de análise levará de 7 a 11 anos, segundo declaração da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um dos órgãos encarregados regulamentação de defensivos agrícolas, ao lado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Mapa.

“Eis, portanto, parte da explicação para os enormes prejuízos provocados pelas pragas que se mostram muito mais ágeis do que a burocracia e ineficiência”, resume Daher.

Ainda sobre a administração de produtos químicos para o combate às pragas, o diretor-executivo da Andef também se posicionou em relação aos princípios ativos.

“Novos ingredientes ativos de defensivos agrícolas geraram produtos mais eficazes e seguros. O ganho de produtividade é atestado pela FAO, órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura: as plantações comerciais não protegidas por modernas tecnologias perdem, em média, 40% de sua produção, podendo chegar a 100% em alguns casos”, calcula.

PREOCUPAÇÃO

Entre as novas pragas, a que mais preocupa, até o momento, é a mosca-da-haste da soja, identificada no Rio Grande do Sul, em julho deste ano. Já causou perdas estimadas em 30% na produção de grãos na Austrália e também está presente no Paraguai e Argentina, que podem ter sido a porta de entrada dessa nova praga que se instalou no Brasil.

“Paraguai e Argentina poderão fazer o controle da Melanagromyza mais facilmente, pois estão testando produtos que poderão ser disponibilizados para o combate mais rapidamente. No Brasil, a burocracia deve retardar a chegada desses produtos. É preciso mais agilidade”, defende Jérson Guedes, pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria.

Sobre a erradicação dessas pragas, Regina Sugayama aponta uma necessidade imediata. “Um aspecto muito importante é que essas três pragas foram detectadas enquanto elas estão localizadas, ou seja, ainda estão em um momento inicial de colonização no Brasil. Por isso, solicitamos mais rapidez, por parte do Mapa, para que possamos evitar que a mosca-da-soja chegue ao Matopiba (região que abrange os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Vamos erradicá-la enquanto ela ainda está no Sul”, alerta a bióloga.

CASO DA HELICOVERPA

Ela lembra que “no caso da Helicoverpa armigera, por exemplo, o grande problema foi a demora para detectar e identificar a espécie e, quando isso aconteceu, ela já estava no Brasil inteiro, aí já não tinha mais o que fazer, não dava para erradicar, já estava espalhada”.

Os grandes eventos esportivos também são uma preocupação quando o assunto é a proliferação de novas pragas. Segundo a Andef, existem riscos de contaminação e disseminação de pragas através da entrada de estrangeiros no País, para as Olimpíadas, por exemplo.

“Por isso é muito importante contar com a colaboração de todos para conter essas infestações. O produtor também tem que se organizar e ficar mais atento para informar, caso surja uma nova praga, para que a mesma seja erradicada rapidamente”, orienta Regina.

 

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