sexta-feira, novembro 22, 2024

Frigoríficos devem ter alívio moderado até março no custo com boi gordo

Os preços do boi gordo no mercado brasileiro deverão arrefecer até março, após uma máxima histórica no início de fevereiro, com um relativo aumento de oferta de animais e um menor consumo interno no país, mas os patamares deverão continuar elevados, pressionando as margens de frigoríficos e desestimulando a demanda dos consumidores.

O indicador Esalq/BM&FBovespa, que serve de referência para o mercado e que registra a média ponderada do boi gordo no Estado de São Paulo, tocou na semana passada um recorde nominal histórico de 152,97 reais por arroba.

A tendência, segundo analistas, é de que até o fim do próximo mês as compras dos frigoríficos sejam relativamente mais fáceis, devido à chegada de mais animais prontos para o abate.

“Em fevereiro e março pode ter pressão para baixo (nos preços). Há limites para o pecuarista segurar o boi no pasto”, disse o diretor da consultoria Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.

Os meses de verão 2015/16 têm sido relativamente mais chuvosos em muitas áreas de criação de bovinos, especialmente na comparação com os dois últimos anos, nos quais períodos de seca prejudicaram a qualidade das pastagens.

“Quanto à recuperação de pastagens, a gente precisa analisar que às vezes pode favorecer a retenção do boi no pasto. O pecuarista tem uma engorda muito barata”, lembrou Ferraz.

Contudo, com muitos animais já atingindo peso adequado e com a aproximação do período seco –no qual é inviável manter os animais em regime de engorda–, a tendência é de maior oferta para os frigoríficos.

O movimento de maiores abates no fim do primeiro trimestre não é incomum. É o encerramento da chamada “safra” do boi gordo, mas que neste ano não terá baixas acentuadas, devido ao cenário –que já se prolonga há alguns anos– de oferta restrita de animais.

“Já vínhamos de oferta bastante restrita de garrote e boi magro (em 2015), que seriam os animais abatidos este ano… Esse efeito sazonal na virada de safra talvez não seja muito acentuado”, destacou o analista da Scot Consultoria Alex Lopes.

A restrita oferta de animais se reflete no número de cabeças abatidas pela indústria. Em 2015, foram 24,66 milhões de bovinos no país, queda de cerca de 8 por cento ante 2014, segundo dados do Ministério da Agricultura.

MARGENS APERTADAS

O alívio momentâneo nos preços do boi gordo não deverá levar benefícios relevantes para frigoríficos, principalmente para os de menor porte, uma vez que os gastos com aquisição de animais não voltará a patamares vistos em anos anteriores.

“A maior parte dos frigoríficos que atuam no mercado interno, vendendo carne com osso, deverão continuar tendo dificuldades. A matéria-prima vai se manter cara”, afirmou Lopes.

Segundo os especialistas, existe um gargalo histórico na atividade de cria (a manutenção de fêmeas reprodutoras e a produção de bezerros), considerada uma atividade mais complexa e menos lucrativa, o que mantém os preços num patamar historicamente elevados.

Segundo Lopes, não se pode descartar mais casos de pequenos frigoríficos fechando portas ao longo de 2016, inclusive porque são empresas que necessitam tomar dinheiro emprestado para compor seu capital de giro, e essas operações estão mais caras atualmente.

“Na hora de passar esses custos maiores para o consumidor, os frigoríficos menores têm maiores dificuldades”, disse.

A principal dificuldade está na competição com proteínas substitutas.

A diferença de preços do dianteiro bovino em relação ao frango inteiro resfriado e à carcaça especial suína atingiu no mês passado o maior patamar para um mês de janeiro de toda a série do Cepea, centro de pesquisas ligado à Universidade de São Paulo.

“O sentimento, conversando com o mercado, é de que houve queda expressiva de consumo interno de carne bovina. Isso se deve à renda dos consumidores e ao fato da carne bovina ser na sensação do público, a mais cara. Isso faz o consumidor optar por carnes que julga mais baratas”, disse Ferraz, da FNP.

Na avaliação da Scot Consultoria, os grandes frigoríficos, que têm acesso às exportações, deverão conseguir aproveitar a desvalorização do real, equilibrando melhor suas contas em meio a um mercado doméstico apertado.

O Minerva, por exemplo, tem 76 por cento de sua receita com carne in natura proveniente de exportações.

 

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