sexta-feira, novembro 22, 2024

Espécie de abelha europeia ameaça invadir o Brasil e entra na lista de “procuradas”

Flor-abelhaProcura-se abelha europeia da espécie Bombus terrestris, ou mamangava da cauda branca, em território brasileiro! O crime? A ameaça potencial às espécies nativas e também a alguns tipos de plantas. A recompensa para quem encontrá-la é entrar para a história da ciência como o primeiro a avistar o animal em solo brasileiro.

Mas calma, não há motivo para pânico. Inclusive, a indicação dos cientistas que idealizaram a campanha é de não matar, nem capturar os bichos, mas fotografar e relatar sua presença. É imprescindível que elas estejam vivaspara que possam ser estudadas e, dessa forma, medir as consequências da invasão.

A busca pelo animal é recente, e no Brasil vem sendo realizada junto aos agricultores, meliponicultores eapicultores do Rio Grande do Sul, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com o suporte de instituições riograndenses, como Emater-RS e a PUC-RS. Para conscientizar sobre o problema,pesquisadores ministram palestras e distribuem cartazes para facilitar a identificação.

Na década de 1970, agricultores chilenos importaram a espécie para ajudar na polinização de tomates em estufas, mas as abelhas fugiram e a partir de então começaram a desbravar as áreas naturais. Em 2006 foram identificadas naArgentina. Ou seja, para chegar lá elas sobrevoaram a cordilheira dos Andes.

Ainda não há relatos no Brasil. O ecólogo André Luis Acosta, que tem a Bombus terrestris como tema de suapesquisa de doutorado e que criou a campanha para procurar a abelha, desenvolveu um algoritmo para gerar um modelo de suscetibilidade à invasão. Após determinar esses locais, percorreu 2.600km indicados pelos estudos, mas não encontrou nenhuma.

O pesquisador estima que ela deve chegar ao país entre 10 e 20 anos, segundo o comportamento estudado em lugares já invadidos como Japão e Nova Zelândia. Isso, claro, se ela já não estiver em solo brasileiro, escondida.

E não há muito o que fazer, a não ser observar as abelhas. “Não existe na literatura métodos efetivos de controlar os polinizadores invasores. O que fazemos após a invasão é pedir para que a população reporte a presença, mas não mate nem capture. É importante a gente ir até o local estudar a relação dela com as plantas no Brasil e com outrasespécies. Como ela nunca veio, não sabemos os impactos para insetos e plantas. Precisamos saber onde está e então estudar os impactos”, alerta o pesquisador que coordena a busca.

Reconhecendo a abelha

A mamangava da cauda branca entrou na mira dos cientistas porque ela ameaça invadir o país e sua presença pode causar danos às espécies nativas e também às plantações. Entre características de identificação estão o tamanho (ela mede cerca de 2,5 cm) e a cauda branca peluda. Veja abaixo a comparação entre a abelha europeia e a apis melífera, mais comum no Brasil.

prancha1Ela tem grande importância agrícola na Europa, especialmente nas culturas do tomate, pimentão, beringela emirtilo. Por ter grande quantidade de pelos e devido a habilidade de vibrar seu abdômen, um indivíduo desta mamangava captura e transfere maior quantidade de pólen entre flores que os de outras espécies de abelhas com menor porte.

Entretanto, André avisa que os prejuízos dela na agricultura brasileira são maiores e piores que os benefícios depolinização. “O uso dela em qualquer circunstância, pelo menos na América do Sul, é inadequado porque ela é exótica. Se fosse na Europa, onde é nativa, não teria problemas. Os beneficios de polinizar versus o impacto que elas causam não compensa”, explica. A espécie já tem a importação proibida em alguns países como Estados Unidos e México, onde são tidas como pragas. Já na América do Sul não há proibição legal.

Os impactos da presença da abelha ainda não podem ser medidos, já que ela ainda não apareceu pelo Brasil. “Ainda não podemos dizer que a Bombus terrestris será favorável ou desfavorável para a polinização agrícola aqui no Brasil, pois ela poderá agredir as abelhas nativas que já fazem este serviço, e esta substituição de polinizadores poderá não trazer vantagens à agricultura, pelo menos inicialmente”, explica o site dedicado ao inseto ameaçador.

Por ser grande e forte, a mamanguava de cauda branca poderá competir por alimento e lugares para instalar suas colmeias. Ela também apresenta um ciclo de trabalho (quando sai para buscar matéria prima para seu alimento, o néctar das flores) mais cedo que a de outras espécies. Isso significa que quando as nativas forem buscar esses recursos, eles estarão esgotados ou em menor quantidade.

Nas plantas, a abelha poderá abrir buracos na base das flores para acessar os recursos quando não conseguir alcançá-los pela abertura natural da flor, devido o seu tamanho. Isto pode ser um problema para a planta, que perderá estaflor e consequentemente o fruto que produziria.

As doenças que ela pode trazer também preocupam. Em seu corpo podem ser trazidos ácaros, carrapatos e micro-organismos prejudiciais à agricultura e apicultura.

Sobre ferroadas, ela não chega a ser agressiva como a apis melífera que está presente em todo o território nacional. Mas a indicação é que não toque o inseto, que parece fofinho por ser peludo: sua picada dói bastante.

Outras invasoras

A iniciativa de procurar pela abelha é pioneira, mas não é a primeira vez que o Brasil é invadido por esses insetos. A própria Apis mellifera, comum hoje no país, foi trazida pelos portugueses e é resultado da cruza com espécies nativas. Mas como o episódio aconteceu há bastante tempo, não houve estudos como o que está sendo feito com a mamanguava de cauda branca.

“Essa campanha é a primeira feita no país, não tem nada do tipo. Essa invasão é uma questão importante. Saiu da pesquisa e se tornou uma ação que mobiliza pessoas no Rio Grande do Sul. E em algum tempo pode virar uma política pública contra importação de especies exóticas, como acontece nos EUA”, finaliza.

Fonte: TERESA RAQUEL BASTOS

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