sábado, novembro 23, 2024

Qualidade da uva e preço pago ao produtor ajudam a compensar perdas pela estiagem

Finalizada a safra de uva no Estado, a opinião dos produtores é quase unânime: por causa da estiagem, não foi nem de perto o melhor ano de colheita da fruta, mas ao menos há a compensação de que o preço pago ao viticultor pela uva que “vingou” foi mais alto do que o do ano anterior. “Nesse sentido, a safra foi caracterizada pela forte influência das variações climáticas, um tipo de panorama que interferiu de forma positiva na qualidade da uva, que teve ótima sanidade, garantia de cor, aroma e sabor, além de alto grau de concentração de açúcares”, salienta o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Derli Bonine, Instituição parceira da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr).
Como fatores decisivos nesse sentido, Bonine cita os altos índices de chuvas e longos períodos de ausência de insolação nos meses de outubro e novembro, período de polinização das flores, e a forte deficiência hídrica de dezembro do ano passado até março último. “Como consequência, na maioria das variedades, o produtor teve de lidar com a incidência de cachos ralos e o baixo calibre das bagas, o que, como um todo, comprometeu a produtividade”, ressalta o agrônomo. “Mas a qualidade da uva que resistiu gerou um efeito compensatório, especialmente para quem comercializa para sucos e vinhos”, avalia.

É o caso do agricultor Azis Ferrari, da localidade de Linha Emília, em Dois Lajeados. Produtor de uvas desde 1993, viu a safra despencar de 170 toneladas em 2018/2019 para 110 toneladas em 2019/2020, nos 6,25 hectares de parreiras plantados, em que trabalha ao lado da esposa e da filha. “Mas a ótima qualidade da fruta, também vendida em menor abundância, fez o preço saltar de R$ 0,93 para R$ 1,20 o quilo o que, em partes, compensou, ainda que não tenha coberto totalmente as perdas”, avalia. Com a uva indo toda para a indústria de sucos, Ferrari garante nunca ter passado por isso antes. “Nem com granizo houve esse tipo de perda”.

Como efeito da safra, Bonine destaca ainda que a uva doce e com ótima sanidade deverá se refletir na ótima qualidade dos derivados de uva, como sucos e vinhos. “No vinho, por exemplo, haverá mais cor, aroma, sabor e maior grau de álcool, que é o que conserva o produto ao longo do tempo”, enfatiza. Na região alta do Vale do Taquari, as uvas produzidas resultam em cerca de dois milhões de litros de vinho. “Já a uva cultivada em Dois Lajeados é praticamente toda convertida em sucos por indústrias na Serra gaúcha”, completa o agrônomo. Na região, cerca de 600 famílias de dedicam a este cultivo para fins comerciais.

Numa análise geral da safra no Estado, o extensionista pondera que a estimativa inicial para a safra de 2019/2020, considerando a uva para fins comerciais, era de 915 mil toneladas colhidas. “No entanto, a redução foi de 20% desse volume, resultando num total de 732 mil toneladas nos 44 mil hectares plantados”, pontua. Ainda assim, num comparativo com o impacto negativo da safra 2018/2019, Bonine diz acreditar que o produtor tem mesmo motivos para comemorar. No ano passado, na mesma área, por efeito do granizo que comprometeu parreirais na Serra gaúcha, foram colhidas apenas 614 mil toneladas. “Número que também ficou aquém do esperado”, finaliza.

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